Professores Terena marcaram presença com participações emocionantes
A importância da escrita na resistência dos povos originários foi o grande tema da roda de conversa com Kaka Werá. A conversa foi mediada pela professora Denise Silva, do Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi), e contou com a participação especial do professor Terena, Aronaldo Julio. A plateia contou com professores da etnia Terena, muitos formados pelo curso de Licenciatura Indígena para os povos do Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
O autor Kaká Werá abriu a conversa citando o Caminho de Peabiru, o conjunto de trilhas que ligavam os oceanos Atlântico e Pacífico, caminhos trilhados pelos povos originários. Para o autor, a cultura das etnias indígenas é repleta de elementos como o caminho que constituem a história do Brasil e da América, ainda que tenha sido ignorada pelos colonizadores que registraram em texto o passado do continente. A história foi escrita do ponto de vista e a linguagem de escritores do século XVI que sempre desprezaram os povos originários, daí os termos pejorativos e a visão deturpada que se criou dos indígenas.
crédito: Elis Regina
Kaká Werá defende que a escrita produzida pelos povos indígenas acaba servindo como forma de registrar a história não apenas das etnias, mas de todo o continente e sua história. Ele destacou, em um paralelo contemporâneo, que o registro da história no idioma português funcionou por séculos na disseminação de “fake news” muito antes de se discutir o tema. A importância da linguagem está presente inclusive nos termos portugueses inexistentes nos dialetos originários, algo que escancara a divergência cultural.
A roda de conversa ainda contou com uma participação especial marcante para os professores Terena presentes: o professor Aronaldo Julio contou sua história como educador do idioma da etnia. Ele explicou que quando decidiu estudar Letras, sua curiosidade era entender como aplicar a gramática do idioma no ensino da escrita, até perceber que não era possível utilizar as mesmas regras do idioma português no entendimento da linguagem Terena. Com o apoio da esposa, Marlene Antonio da Silva, que bancou sua graduação e hoje vê o marido prestes a receber o título de doutor.
A emoção também rolou solta quando Celso Augusto, indígena terena da Aldeia Cachoeirinha, de Miranda, subiu ao palco e cantou a canção “Eloketi ongovo” que, segundo ele, significa “A minha felicidade”. A música foi uma homenagem do professor ao escritor Kaka Werá e ao momento. “Eu aprendi aquela canção com a minha avó, que sempre a cantava em momentos especiais. Quando alguém chegava, uma pessoa de fora, ou quando alguém saía da aldeia, ela começava a cantar. Quando essa pessoa retornava, por exemplo, um neto, ela expressava um sentimento de alegria ao ver o neto de volta, e cantava também. Quis cantá-la para o Kaka, porque estou muito feliz por encontrar um parente. Ele veio de outro estado, e para mim é muito emocionante estar com ele, compartilhar suas experiências, especialmente na área de história e cultura. Repasso esses conhecimentos para meus alunos também. Por isso, este encontro é tão importante”, contou.
crédito: Elis Regina
Sobre o autor – Kaká Werá é escritor, educador, terapeuta, empreendedor social e conferencista de renome. Ele é um dos precursores da literatura indígena no Brasil e autor de 12 livros, incluindo os premiados “A Terra dos Mil Povos” e “Menino-Trovão”. Há 30 anos, fundou o Instituto Arapoty, que desenvolveu projetos tanto no Brasil quanto na França, com foco na valorização dos saberes tradicionais dos povos originários.
Sobre a Feira – A programação da Feira Literária de Bonito é aberta a todos os públicos e 100% gratuita. Ela é realizada pelo Instituto Ímole, organizada pela Bolt Realizações e com o patrocínio do Governo Federal, Ministério da Cultura, copatrocínio da Caixa Econômica Federal. Além disso, a feira conta com apoio do Governo de Mato Grosso do Sul; Sistema Fecomércio; Sesc MS; deputado federal Vander Loubet por meio de emenda parlamentar; Prefeitura Municipal de Bonito; Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito; Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul; Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura (Setesc) e Zoom Publicidade.
Confira a programação completa, acessando https://flibonito.com/programacao/
Serviço
Feira Literária de Bonito – FLIB 2024
quando: de 3 a 6 de julho, das 10 às 22h
onde: Praça da Liberdade, Bonito (MS) – R. Luís da Costa Leite, s/n
Programação gratuita e aberta ao público
A programação completa está disponível no site https://flibonito.com.
Toda a programação da Feira Literária de Bonito é gratuita. Para conferir na íntegra, acesse https://flibonito.com/programacao/
Daniel Rockenbach – assessoria de imprensa FLIB