O lado B de Brasília em cena: Andressa Marques fala sobre literatura e memória na FLIB

Autora destacou a importância de recontar histórias silenciadas e de transformar vivências em literatura

Andressa Marques fala sobre construções. (foto: Luana Chadid)

Na noite de sábado (21), o Pavilhão das Letras recebeu a escritora brasiliense Andressa Marques para a conversa “O lugar do real na ficção”, com mediação da produtora cultural Marcelle Saboya, idealizadora dos clubes de leitura Leituras di Macondo e Clube do Gabi, e da assessora de imprensa Evelise Couto, mediadora do Leia Mulheres Campo Grande. O encontro integrou o Circuito Literário da nona edição da Feira Literária de Bonito (FLIB) e revelou ao público como a autora constrói sua prosa entrelaçando memória, imaginação e experiência vivida.

Marques explicou que a história de seu avô, trabalhador que participou da construção de Brasília, foi uma das inspirações para o romance. Para chegar até essa memória, precisou revisitar várias gerações de sua família, entrelaçando lembranças pessoais, relatos ouvidos e a liberdade da invenção literária. 

Em A construção, livro vencedor do concurso Toca Literária, essas vivências se misturam à vida de Jordana, jovem da primeira geração de cotistas nas universidades públicas brasileiras. A protagonista percorre o nervosismo dos primeiros dias de aula, os embates com veteranos e professores, o racismo velado e o escancarado e uma trajetória que dialoga com as memórias dos trabalhadores que ergueram a capital federal, costurando assim presente e passado, ficção e realidade.

A autora ressaltou que a narrativa também é um gesto de contestação à história oficial de Brasília, quase sempre contada pela ótica dos engenheiros. Marques lembrou da frase que circulava na época: “Ouvi dizer que não terá negros em Brasília” — provocação à qual Carolina Maria de Jesus respondeu: “Quero só ver se não vai ter negro em Brasília”. Para a escritora, imaginar essas presenças ausentes é um modo de devolver densidade e pluralidade à memória coletiva.

Ao comentar sua atuação no Ministério da Cultura, onde atualmente ocupa o cargo de Coordenadora-Geral de Livro e Literatura, Marques defendeu a importância de fomentar a formação de escritores e estimular jovens a criarem seus próprios personagens: “Isso é o principal: formar escritores é construir futuro”.

Outro ponto forte da conversa foi a articulação entre narrativas paralelas, que atravessam passado e presente. Marques lembrou ainda do Manifesto dos 113, em que intelectuais protestaram contra as cotas raciais, e contrapôs esse gesto à vivência dos estudantes de hoje: “A gente só quer estudar”, afirmou.

Com lirismo, A construção ilumina tanto as histórias esquecidas de Brasília quanto as inquietações contemporâneas da juventude brasileira. O ator Antônio Pitanga, presente no encontro, resumiu a potência da obra ao dizer que o romance alcança “a alma do lado B de Brasília”.

Sobre a FLIB

A Feira Literária de Bonito está em sua nona edição, acontece entre os dias 17 e 21 de setembro, na Praça da Liberdade, que será palco da programação oficial do evento, reunindo escritores, editoras, estudantes e leitores em uma grande celebração da literatura em suas diversas formas.

O evento é uma realização do Instituto Ìmòlé com apoio da Prefeitura Municipal de Bonito, do deputado federal Vander Loubet, do Ministério da Cultura e do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, além de instituições culturais e empresas parceiras como Sanesul, Energisa, Banco do Brasil e Empresa Gestora de Ativos – Emgea. O projeto foi contemplado pelo Plano Nacional Aldir Blanc – PNAB, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Desde a publicação do decreto lei estadual nº 6457 de 11 de agosto de 2025, o evento integra o Calendário Oficial de Eventos do Estado de Mato Grosso do Sul.

A programação completa está disponível em https://flibonito.com/programacao-2025/ 

texto: Ecoai Comunicação