Ney, Elis e os bastidores da vida: Júlio Maria traz a força da biografia para a Feira Literária de Bonito

Conversa trouxe relatos do autor sobre o processo biográfico, reflexões sobre o jornalismo e até provocações sobre inteligência artificial

Júlio Maria discute a arte de biografar grandes estrelas. (foto: Elis Regina)

Na noite de 20 de setembro, o Pavilhão das Letras recebeu um dos encontros mais aguardados da 9ª Feira Literária de Bonito (FLIB): a conversa “Encantar biografias”, com o jornalista e biógrafo Júlio Maria, mediada pela professora e curadora do evento Maria Adélia Menegazzo. Autor das biografias de Elis Regina e Ney Matogrosso, finalista do Prêmio Jabuti e vencedor do APCA, Júlio compartilhou com o público histórias de bastidores, memórias afetivas e reflexões sobre a arte de narrar vidas.

No jornalismo, a gente constrói uma ponte que pode cair no dia seguinte”, afirmou, lembrando que o papel do biógrafo é lidar com riscos e delicadezas. Para ele, o ponto ideal é quando não há retorno do biografado: “Se o telefone toca e ele reclama, você errou. Se toca e ele elogia, você errou. A biografia precisa ser honesta, não um julgamento.”

O público se emocionou ao ouvir relatos sobre a biografia de Ney Matogrosso, como a cena do parto do artista, reconstituída a partir da fala da mãe. “Eu entendi que o Ney é a fronteira. Essa condição dele de transbordar tem a ver com o lugar de onde ele saiu. Ney é tudo, mas não é pai, e eu, como pai, entendi a atitude do pai dele. O biógrafo precisa ter cuidado para não vilanizar personagens importantes”, comentou.

Um dos momentos de maior interação foi quando Júlio perguntou se alguém da plateia havia visto um show do grupo Secos & Molhados ao vivo. O ator Antônio Pitanga, presente na conversa, levantou a mão e descreveu o espetáculo como “algo de outro mundo”. Pitanga ainda contou sobre a fase teatral de Ney antes de assumir a carreira musical. Júlio completou: “O Ney queria ser ator de teatro. O canto veio depois, mas a meta inicial era o palco. As pessoas descreviam o show dos Secos como assombro, e eu queria muito ter sentido esse assombro como plateia.

A conversa também trouxe provocações sobre os tempos atuais e o impacto da tecnologia na criação. “A inteligência artificial está prejudicando os medíocres. O que estou percebendo é que as IAs já fazem coisas interessantes. Para ser criativo, para ser original, precisamos nos esforçar mais. Quando tudo parecer muito igual, a IA vai acabar com os compositores. O desafio será a originalidade; e quem for original vai vencer.

Com mais de 27 anos de carreira em grandes jornais, Júlio Maria mostrou que a biografia, quando bem conduzida, é mais que um retrato: é um mergulho em humanidade, cheio de nuances, silêncios e assombros. A plateia saiu com a sensação de ter participado de um encontro raro, onde jornalismo e literatura se encontraram para revelar o que há por trás das histórias que moldam a cultura brasileira.

Sobre a FLIB

A Feira Literária de Bonito está em sua nona edição, acontece entre os dias 17 e 21 de setembro, na Praça da Liberdade, que será palco da programação oficial do evento, reunindo escritores, editoras, estudantes e leitores em uma grande celebração da literatura em suas diversas formas.

O evento é uma realização do Instituto Ìmòlé com apoio da Prefeitura Municipal de Bonito, do deputado federal Vander Loubet, do Ministério da Cultura e do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, além de instituições culturais e empresas parceiras como Sanesul, Energisa, Banco do Brasil e Empresa Gestora de Ativos – Emgea. O projeto foi contemplado pelo Plano Nacional Aldir Blanc – PNAB, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Desde a publicação do decreto lei estadual nº 6457 de 11 de agosto de 2025, o evento integra o Calendário Oficial de Eventos do Estado de Mato Grosso do Sul.

A programação completa está disponível em https://flibonito.com/programacao-2025/ 

texto: Ecoai Comunicação