Na FLIB, Aline Bei mostrou como a solidão pode virar literatura e como o tempo atravessa suas personagens

Ao final, a fila por autógrafos confirmou a proximidade da escritora com o público

Debate sobre solidão e afetos toma conta do Pavilhão das Letras. (foto: Elis Regina)

Na 9ª Feira Literária de Bonito (FLIB), a voz de Aline Bei ecoou com a mesma intensidade íntima que atravessa suas páginas. Autora de O Peso do Pássaro Morto (2017), Pequena Coreografia do Adeus (2021) e Uma Delicada Coleção de Ausências (2025), ela foi recebida no Circuito Literário em uma conversa mediada pela produtora cultural Marcelle Saboya e pela professora Karina Vicelli, em Bonito.

Aline lembrou que, no lançamento de seu primeiro livro, oferecia exemplares pelo Instagram, abrindo diálogos pessoais e diretos com os leitores. Esse gesto, que pode soar improvável para uma estreia literária, nasceu de sua experiência no teatro, onde o artista atua em várias frentes, do palco à bilheteria e, sobretudo, aprende a cultivar proximidade com o público. “Carreguei essa versatilidade comigo. Acho bonito estar perto das pessoas”, disse.

A infância, marcada por silêncios e por uma solidão que ela descreve como “inerente à humanidade”, também esteve no centro de sua fala. Aline contou que os livros foram refúgio e companhia, capazes de trazer alegria e abrir janelas para o mundo. “Antes de escrever, eu li muito. Isso me deu liberdade e leveza, porque comecei sem os preconceitos de quem já se vê escritor desde cedo”, explicou.

Em sua obra, essa experiência se reflete nas personagens femininas que cria: mulheres de idades variadas, atravessadas pelo tempo e pelas transformações que ele impõe, mas unidas por uma mesma densidade afetiva. São meninas, jovens e mulheres maduras que carregam perdas, ausências e angústias, mas também a delicadeza da resistência, a capacidade de inventar formas de seguir.

A autora refletiu ainda sobre o lugar da obra em relação ao criador. “O autor não é o livro que escreve. O livro é sempre maior do que o autor”, afirmou. Suas histórias, inclusive, já ultrapassaram o papel: O Peso do Pássaro Morto ganhou adaptação teatral durante a pandemia, e Pequena Coreografia do Adeus segue agora o mesmo caminho. As capas de seus livros, ilustradas por obras da artista Louise Bourgeois, reforçam essa rede de sentidos que conecta literatura e artes visuais.

Aline também revisitou sua própria travessia: do teatro para a literatura, passando por incertezas sobre o futuro e a possibilidade de tornar-se professora. “Era uma transição entre o teatro e o nada. No caminho, conheci poetas e percebi que o poeta e o ator são irmanados. Comecei achando que era poeta, mas fui descobrindo outro formato de escrita.”

Ao final da conversa, a cena se repetiu como em um ritual de afeto: o público que acompanhou atentamente sua fala formou uma longa fila, levando nas mãos os livros de Aline Bei à espera de um autógrafo. Um gesto simples, mas carregado da mesma proximidade que marcou sua trajetória desde o início.

Sobre a FLIB

A Feira Literária de Bonito está em sua nona edição, acontece entre os dias 17 e 21 de setembro, na Praça da Liberdade, que será palco da programação oficial do evento, reunindo escritores, editoras, estudantes e leitores em uma grande celebração da literatura em suas diversas formas.

O evento é uma realização do Instituto Ìmòlé com apoio da Prefeitura Municipal de Bonito, do deputado federal Vander Loubet, do Ministério da Cultura e do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, além de instituições culturais e empresas parceiras como Sanesul, Energisa, Banco do Brasil e Empresa Gestora de Ativos – Emgea. O projeto foi contemplado pelo Plano Nacional Aldir Blanc – PNAB, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Desde a publicação do decreto lei estadual nº 6457 de 11 de agosto de 2025, o evento integra o Calendário Oficial de Eventos do Estado de Mato Grosso do Sul.

A programação completa está disponível em https://flibonito.com/programacao-2025/ 

texto: Ecoai Comunicação