Homenageadas da Flib 2025

Flora Egídio Thomé

A poetisa que eternizou Três Lagoas em versos

Flora Egídio Thomé nasceu em Três Lagoas, em 1930, filha de imigrantes libaneses. Professora universitária da UFMS por mais de 40 anos, ela formou gerações e levou sua paixão pelas letras para além da sala de aula, transformando o cotidiano e a memória da cidade em poesia.

Autora de obras como Cirros, Cantos e Recantos, Haicais e Nas Águas do Tempo, Flora fez da palavra um mapa afetivo. Sua escrita une lirismo e memória, registrando transformações culturais e urbanas de Três Lagoas, sem perder o tom íntimo e humano. Na Antologia Dimensional de Poetas Três-Lagoenses, ajudou a valorizar a cena literária local e abrir espaço para novos escritores.

Reconhecida também como articulista, colaborou com a revista MS Cultura e jornais regionais, sempre atenta ao diálogo entre literatura e sociedade. Na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, ocupou a cadeira nº 33, consolidando-se como uma das vozes mais representativas do estado.

Flora faleceu em 2014, mas deixou um legado que segue vivo em pesquisas acadêmicas, eventos culturais e homenagens que a colocam ao lado de grandes nomes da literatura brasileira. Sua trajetória mostra como a literatura regional, quando escrita com sensibilidade e rigor, transcende fronteiras e se torna universal.

Carolina Maria de Jesus

A voz negra que sacudiu o Brasil desde a favela

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento (MG) em 14 de março de 1914. Filha de mulher lavadeira analfabeta e criadora de sete filhos, estudou apenas os dois primeiros anos do ensino fundamental. Ainda criança, descobriu seu amor pelas letras — o que transformaria sua vida.

Anos depois, mudou-se para São Paulo, onde viveu na favela do Canindé, sobrevivendo como catadora de papéis enquanto criava sozinha seus três filhos. Foi lá que escreveu seu diário, em cadernos encontrados no lixo, relatando com brutalidade a fome, a pobreza e o racismo que permeavam seu dia a dia.

Em 1960, o jornalista Audálio Dantas descobriu esses escritos e transformou-os no marco literário Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada. O livro foi um fenômeno: vendeu dez mil exemplares em uma semana, ultrapassou cem mil cópias em poucas edições e ganhou tradução para mais de treze idiomas, viajando por dezenas de países.

Carolina não parou por aí. Publicou mais obras ao longo da vida, como Casa de Alvenaria (1961), onde reflete sua ascensão social; Pedaços da Fome e Provérbios (ambos de 1963) — todas marcadas pela crítica social e acuidade literária.

Mesmo com o sucesso inicial, seus livros posteriores tiveram menor repercussão e, confrontada com o esquecimento, morreu em 13 de fevereiro de 1977, em Parelheiros (SP), longe dos holofotes que um dia iluminou.

Décadas depois, seu legado renasce com força. Seus cadernos inéditos — que contêm romances, contos, poemas, peças e canções — vêm sendo resgatados por pesquisadores como Rafaella Fernandez, revelando uma autora multifacetada. A escritora foi homenageada com exposições, títulos póstumos e com o Prêmio Carolina Maria de Jesus, criado em 2023 para valorizar escritoras brasileiras.

Carolina Maria de Jesus é resistência — uma mulher negra que, com caneta e pedaços de papel, ergueu sua voz, denunciou desigualdades e abriu caminho para a literatura periférica. Sua vida e obra permanecem viva inspiração.