Carolina vive aqui: réplica de sua casa transforma a Feira Literária de Bonito

Instalação recria cama, fogão e o espaço de escrita da autora, aproximando gerações de sua vida e legado

Estudantes visitam a Casa Carolina Maria de Jesus. (foto: Elis Regina)

A Feira Literária de Bonito, em sua nona edição, recebe um espaço que tem emocionado e provocado reflexões na Praça da Liberdade: a Casa Carolina Maria de Jesus, instalação que recria o ambiente em que a escritora viveu com seus três filhos em um cômodo de tábuas de madeira simples, semelhante às moradias da comunidade do Canindé, em São Paulo, onde ela escreveu parte de sua obra.

Aberta à visitação durante os dias de programação da FLIB, a casa permite que o público mergulhe na realidade de uma das autoras mais importantes da literatura brasileira. O espaço reúne elementos do cotidiano de Carolina: a cama modesta, as panelas de ferro e alumínio, o fogão improvisado e o cantinho onde escrevia em folhas recolhidas do lixo, sempre com a escrita como instrumento de resistência. São detalhes que ecoam o universo retratado em Quarto de Despejo e que fazem o visitante sentir a força e a simplicidade de sua vida.

A instalação é resultado de um projeto financiado pela CAPES – PDPG Políticas Afirmativas, pela Lei Paulo Gustavo (2024), em parceria entre a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), campus de Aquidauana. Também fazem parte pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Desde sua criação, já percorreu mais de 20 eventos em diferentes cidades, levando a memória de Carolina a escolas, feiras literárias e encontros acadêmicos.

Segundo Mário Meirelles, doutorando da UFGD e integrante do projeto, a Casa surgiu no contexto da iniciativa Escrevivência, que busca dar visibilidade às vozes negras e fortalecer a educação antirracista. “Não era possível falar de Carolina sem mostrar o ambiente em que ela vivia. Mantivemos dimensões e materiais próximos da realidade dela. A cama continua, o fogão também, assim como a simplicidade que marcava sua vida. Queremos que cada visitante sinta o que Carolina sentia e perceba a força da sua escrita”, destacou.

Para ele, a experiência é pedagógica e afetiva: “É preciso entender que a realidade vivida por Carolina não terminou em 1960. O racismo estrutural continua. Recriar sua casa é também um ato de resistência e de amor. Carolina acreditava que a leitura podia mudar o mundo, e seguimos acreditando nisso.”

A cada visita, o espaço mobiliza públicos diversos. Crianças, jovens e adultos se surpreendem ao ver de perto como era possível criar literatura a partir de um ambiente tão precário. 

Aberta diariamente até o encerramento da Feira, no domingo, a Casa Carolina Maria de Jesus se tornou um dos pontos mais visitados da FLIB 2025, reafirmando o compromisso do evento em valorizar a memória literária e a luta por igualdade racial.

Sobre a FLIB

A Feira Literária de Bonito está em sua nona edição, acontece entre os dias 17 e 21 de setembro, na Praça da Liberdade, que será palco da programação oficial do evento, reunindo escritores, editoras, estudantes e leitores em uma grande celebração da literatura em suas diversas formas.

O evento é uma realização do Instituto Ìmòlé com apoio da Prefeitura Municipal de Bonito, do deputado federal Vander Loubet, do Ministério da Cultura e do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, além de instituições culturais e empresas parceiras como Sanesul, Energisa, Banco do Brasil e Empresa Gestora de Ativos – Emgea. O projeto foi contemplado pelo Plano Nacional Aldir Blanc – PNAB, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Desde a publicação do decreto lei estadual nº 6457 de 11 de agosto de 2025, o evento integra o Calendário Oficial de Eventos do Estado de Mato Grosso do Sul.