Antônio Pitanga retorna à FLIB e emociona público em conversa sobre filme Malês

Ator e diretor relembrou sua trajetória e destacou a importância da oralidade na preservação da memória negra brasileira

Antônio Pitanga e Ben-Hur Ferreira conversam sobre o filme “Malê”. (foto: Elis Regina)

A 9ª Feira Literária de Bonito (FLIB) recebeu, nesta sexta-feira (19), o ator e diretor Antônio Pitanga, que participou do Dedo de Prosa no Pavilhão das Letras. A conversa, mediada pelo escritor e professor Ben-Hur Ferreira, teve como foco o filme Malês, dirigido por Pitanga, que estreia nos cinemas em 2 de outubro. O longa retrata a Revolta dos Malês, maior levante urbano organizado por pessoas escravizadas no Brasil, ocorrido em Salvador em 1835.

Presença frequente na FLIB, Pitanga é sempre celebrado pelo público do evento. Suas participações são marcadas por reflexões profundas e trocas produtivas. Desta vez, não foi diferente: o público interagiu com perguntas e comentários, ampliando o debate sobre a memória e a luta da população negra no país.

Natural do Pelourinho, em Salvador, Pitanga relembrou sua infância e apontou contradições históricas vividas pela população negra. “Era uma cidade com 365 igrejas, construídas por negros que não podiam entrar nelas. É por isso que precisamos contar a nossa história, pela oralidade, porque são muitas as histórias que ficaram silenciadas”, afirmou. Ele ressaltou ainda a circulação do filme em comunidades quilombolas, universidades brasileiras e instituições norte-americanas, como forma de fortalecer a autoestima coletiva. “Quando um negro chega lá, todos nós chegamos.”

Com roteiro de Manuela Dias, Malês reúne Rocco Pitanga, Camila Pitanga, Bukassa Kabengele, Samira Carvalho e Rodrigo de Odé no elenco. No filme, Antônio interpreta Pacífico Licutan, um dos líderes da rebelião que defendia a união de diferentes etnias e religiões pelo fim da escravidão. Embora derrotada, a revolta organizada por africanos muçulmanos, conhecidos como malês, marcou a história brasileira e intensificou a repressão contra a população negra.

Para Ben-Hur Ferreira, a participação de Pitanga reafirma o compromisso da FLIB com a diversidade e a valorização da memória histórica. “A Feira está de parabéns por trazer o Pitanga para resgatar a maior revolta urbana da Bahia no século XIX. É um diretor negro, com uma trajetória que reflete a força do caldeirão cultural que é a Bahia, da religiosidade, do conhecimento e da resistência à escravização. Saio daqui celebrando a vida”, destacou.

A roda foi marcada por emoção, interação e aprendizado, reforçando o papel da literatura, do cinema e da oralidade como instrumentos de resistência e de preservação da história negra no Brasil.

Sobre a FLIB

A Feira Literária de Bonito está em sua nona edição, acontece entre os dias 17 e 21 de setembro, na Praça da Liberdade, que será palco da programação oficial do evento, reunindo escritores, editoras, estudantes e leitores em uma grande celebração da literatura em suas diversas formas.

O evento é uma realização do Instituto Ìmòlé com apoio da Prefeitura Municipal de Bonito, do deputado federal Vander Loubet, do Ministério da Cultura e do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, além de instituições culturais e empresas parceiras como Sanesul, Energisa, Banco do Brasil e Empresa Gestora de Ativos – Emgea. O projeto foi contemplado pelo Plano Nacional Aldir Blanc – PNAB, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Desde a publicação do decreto lei estadual nº 6457 de 11 de agosto de 2025, o evento integra o Calendário Oficial de Eventos do Estado de Mato Grosso do Sul.

A programação completa está disponível em https://flibonito.com/programacao-2025/ 

texto: Ecoai Comunicação