Autora e mediadora, colegas nos tempos de movimento estudantil durante a ditadura, reviveram memórias e conversaram sobre literatura, silêncios e memória

Na noite de sexta-feira, 19 de setembro, o Pavilhão das Letras recebeu um dos momentos mais emocionantes da 9ª Feira Literária de Bonito (FLIB). A conversa “Alguém sem história?”, com a escritora Ana Cristina Braga Martes, reuniu plateia atenta e ganhou contornos de reencontro, já que a mediação ficou a cargo da professora e curadora do evento, Maria Adélia Menegazzo.
As duas foram colegas na graduação em Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista (Unesp/Araraquara) durante os anos da ditadura militar, quando se engajaram no movimento estudantil. Conhecidas então como Dé e Cris, viveram juntas tempos de repressão e se reencontraram, décadas depois, em Bonito, agora no cenário da literatura. A emoção foi inevitável. “Foi uma emoção, deu vontade de chorar, de lembrar”, confessou Ana Cristina, ao rememorar os laços daquele período.
Nascida em Varginha (MG) e criada em São Carlos (SP), Ana Cristina construiu carreira acadêmica sólida como socióloga e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), até decidir, em 2019, dedicar-se integralmente à literatura. Seu primeiro romance, A origem da água, narra a história de uma mulher que, aos 25 anos, se interna voluntariamente em um hospício — tema que, segundo Maria Adélia, dialoga fortemente com questões de saúde mental, especialmente das mulheres.
Já no segundo livro, Sobre o que não falamos, a autora mergulha em um ambiente marcado por silêncios, segredos e repressão, ambientado nos anos de ditadura. “Foi um desafio encontrar o tom da protagonista adolescente, porque o silêncio permeia a narrativa”, comentou Ana Cristina. O tema, que remete ao contexto vivido pelas duas na juventude, ressoou ainda mais com a coincidência do reencontro.
Ana Cristina adiantou ao público que já finalizou seu terceiro romance, entregue recentemente à Editora 34, com o título provisório Aqui tão longe. A obra acompanha a vida de imigrantes brasileiros em Londres, que, apesar da distância, permanecem profundamente ligados ao Brasil e enfrentam as dificuldades de inserção na sociedade britânica.
O público acompanhou a conversa, marcada não apenas pela análise da obra literária, mas pela força simbólica da amizade retomada entre Maria Adélia e Ana Cristina. Para a autora, que já conhecia Bonito, mas agora veio como escritora, a experiência foi singular: “Estou muito feliz de estar aqui, especialmente por compartilhar esse momento com uma colega da juventude. É uma coincidência daquelas que só a vida pode proporcionar”.
Sobre a FLIB
A Feira Literária de Bonito está em sua nona edição, acontece entre os dias 17 e 21 de setembro, na Praça da Liberdade, que será palco da programação oficial do evento, reunindo escritores, editoras, estudantes e leitores em uma grande celebração da literatura em suas diversas formas.
O evento é uma realização do Instituto Ìmòlé com apoio da Prefeitura Municipal de Bonito, do deputado federal Vander Loubet, do Ministério da Cultura e do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, além de instituições culturais e empresas parceiras como Sanesul, Energisa, Banco do Brasil e Empresa Gestora de Ativos – Emgea. O projeto foi contemplado pelo Plano Nacional Aldir Blanc – PNAB, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Desde a publicação do decreto lei estadual nº 6457 de 11 de agosto de 2025, o evento integra o Calendário Oficial de Eventos do Estado de Mato Grosso do Sul.
A programação completa está disponível em https://flibonito.com/programacao-2025/
texto: Ecoai Comunicação
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