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‘A pessoa que tem acesso a leitura se abre para um universo gigantesco’

Guga Borba vive uma fase madura de sua carreira. Aos 49 anos e avô da pequena Safira, de 11 meses, o cantor e compositor se apresentou no palco principal da Feira de Literatura de Bonito, a FLIB, na noite de quarta-feira (03), em Bonito (MS). Guga tocou acompanhado de Ju Souc na bateria e Alex Cavalheri nos teclados e durante 1 hora interpretou com sua voz marcante um repertório de sucessos, como “Meu Carnaval”, do Filho dos Livres, Vida Cigana”, de Geraldo Espíndola, e “D de Destino”, de Almir Sater, Renato Teixeira e Paulo Simões.

crédito: Luana Chadid

Prestes a lançar novos trabalhos, Guga bateu um papo com a equipe da FLIB para falar dos planos da carreira e ter integrado a programação da feira em 2024.

A FLIB aproxima a literatura da música e vice-versa em sua programação. Qual é a sua relação com a literatura?

Guga Borba – Eu já fui muito mais ligado à literatura. Mas recentemente eu comprei novamente o livro “Assim Falou Zaratustra”, do Friedrich Nietzsche, que eu li quando tinha 13 anos de idade e inclusive foi desta publicação que saiu o nome Filho dos Livres, que batiza o duo com o Guilherme Cruz. E é incrível porque agora, muitos anos depois, eu estou com 49 anos, parece que estou lendo um outro livro em uma outra perspectiva. O meu contato maior com a literatura veio por meio da minha irmã, que é geógrafa, mora atualmente no Rio Grande do Norte. Era ela que que me indicava o que ler e vários livros. Depois eu conheci também o Rubens Costa Marques, que escreveu a trilogia do patrimônio histórico sul-mato-grossense, e ele me presenteou com muitos livros. Duas pessoas que me influenciaram muito para me interessar por literatura. O livro é essencial para a educação. A pessoa que tem acesso a leitura se abre apara um universo gigantesco. Do seu quarto lendo um livro você vai para outros lugares.

Você acompanha a FLIB há muitos anos. Como foi finalmente conseguir ser uma das atrações da feira nesta edição de 2024?

Guga Borba – Finalmente. Eu sempre paquerei muito a FLIB, até porque como eu mesmo escrevo as minhas canções, eu queria tocar pra estas pessoas que valorizam e entendem que existe uma letra por trás das músicas e não só aquela coisa da “dancinha”. Então conseguir vir agora foi fantástico.

Quais os trabalhos que você está preparando para 2024. Vem música nova por aí, disco novo do Filho dos Livres, da sua carreira solo…?

Guga Borba – Eu e o Francis Rosa, que é de Joanópolis mas está morando em Monte Verde, em Minas Gerais, fizemos várias composições em parceria e estamos preparando um primeiro álbum juntos. Vai se chamar “Duas Serras”, porque ele mora na Serra da Mantiqueira e eu estou na Serra de Bodoquena. Ficamos juntos agora dez dias, fizemos vários shows em Minas Gerais e São Paulo, já começamos a gravar e deve sair um disco com 10 faixas possivelmente ainda este ano. Também estou com dois singles novos, “O Lugar dos Anjos” e “Nossa Frequência”, para lançar em breve como trabalho solo. A ideia é lançar em agosto pelo selo Corredor 5, do York Correa, que vai fazer a distribuição. Também estou escrevendo um álbum novo autoral do Filho dos Livres com meu parceiro Guilherme Cruz. Já tem bastante coisas “pré-prontas”.

Você é agente da cena musical de Mato Grosso do Sul desde a década de 1990. Como você analisa o momento que o Estado está passando atualmente?

Guga Borba – O momento está bastante confuso. A música autoral bem feita está sofrendo uma espécie de desprezo. Percebo atualmente um movimento de banda de cover de novo. Grupos de fora do Estado que se dizem “oficiais” de Pearl Jam e Nirvana, mais voltados para o entretenimento, e que ocupam um espaço que poderia ser para bandas de MS que estão voltando a criar e a gravar trabalhos autorais novos. Com isso existe uma valorização de algo que não é nosso e um abandono desta música sul-mato-grossense que vários artistas lutam e lutaram para existir. A música autoral de MS passa por um momento ruim no sentido de não ter mais uma união forte entre os próprios músicos. Também perdemos espaço para realizar shows no Estado, temos uma divulgação pequena nas rádios sul-mato-grossenses de forma geral e na própria TV Educativa de Mato Grosso do Sul, que antes levava os artistas de MS para dentro da casa das pessoas, tanto aqui em MS como em outros Estados do país.

Rodrigo Teixeira